A controvérsia da inteligência artificial na arte: O que expor no CCBB-RJ nos diz sobre o futuro da criação digital?

Descubra o debate acalorado em torno da inteligência artificial na arte, provocado por uma exposição no CCBB-RJ. Exploramos as obras de Mayara Ferrão, as diferentes visões sobre o que define a arte e as implicações para o futuro da criação de conteúdo digital.

Quantas vezes nos pegamos diante de uma obra e nos perguntamos: “Isso é arte?”. Essa pergunta, antiga e complexa, ganha novas camadas e urgência na era digital. E quando a criação não vem diretamente das mãos ou pincéis de um humano, mas sim de algoritmos complexos e modelos de inteligência artificial? O que sentimos, o que pensamos, o que aceitamos? Uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro reacendeu esse debate, mostrando que a tecnologia não apenas transforma nosso cotidiano, mas também desafia nossas mais profundas noções sobre criatividade, autoria e o próprio conceito de arte. As reações, paixões e indignações que surgiram em torno das obras geradas por IA expostas lá nos convidam a uma reflexão sobre os limites, as possibilidades e o futuro da expressão humana na era da tecnologia generativa.

O Palco do Debate: Indomináveis Presenças e as Imagens de Mayara Ferrão

O epicentro desta discussão atual é a exposição “Indomináveis Presenças”, em cartaz no CCBB do Rio de Janeiro. Entre as obras apresentadas, destacam-se as criações da artista Mayara Ferrão. Utilizando ferramentas de inteligência artificial generativa, Ferrão concebeu imagens que emulam a estética de fotografias antigas, mas que retratam cenas historicamente ausentes dos registros visuais, como mulheres indígenas e escravizadas em momentos de afeto e intimidade. A intenção declarada é “ressignificar o passado”, preenchendo lacunas visuais deixadas pela opressão e pela ausência de representatividade.

A proposta, poderosa em sua intenção de provocar e resgatar narrativas silenciadas, gerou um burburinho imediato, especialmente nas redes sociais do CCBB carioca. Comentários indignados se misturaram a defesas apaixonadas, transformando o perfil do centro cultural em um fórum inesperado para o debate sobre arte gerada por IA. A instituição se posicionou, defendendo que a inteligência artificial funciona como uma ferramenta a serviço da visão artística do criador, argumentando que a autoria reside na consciência estética e na concepção do projeto por trás do comando dado à máquina.

Essa defesa, embora faça sentido para muitos, ainda soa estranha para outros. A ideia de uma “marca” ou instituição se manifestando com uma “opinião” em um debate filosófico profundo é, por si só, um reflexo dos tempos atuais e de como a comunicação digital redefine as interações e os discursos. Mas, mais importante do que a forma da comunicação, é o conteúdo do debate que ela gerou: afinal, essas imagens são arte? E se sim, sob quais critérios?

Arte, Fotografia e o Processo Criativo na Era da Inteligência Artificial

A questão central que emerge das discussões no CCBB e em outros fóruns online é a distinção entre imagens geradas por inteligência artificial e outras formas de arte digital ou tradicional. Muitos críticos argumentam que, embora as criações de IA possam ser visualmente impressionantes, elas carecem de elementos fundamentais do processo artístico tradicional. A falta de “memória muscular”, a ausência de experimentação tátil com materiais, e a natureza do comando dado à IA, que ajusta parâmetros algorítmicos em vez de exigir uma manipulação direta da forma ou cor, são frequentemente citados como pontos de divergência.

A tecnologia generativa utilizada por Mayara Ferrão e outros artistas opera com base em vastos conjuntos de dados de imagens existentes, “aprendendo” padrões, estilos e conceitos para gerar novas imagens com base em instruções textuais (prompts). Para alguns, isso reduz o processo a um mero “match de texto”, destituído da subjetividade e das decisões intuitivas que caracterizam a criação de conteúdo artística humana. A autoria, nesse contexto, torna-se difusa: o criador do prompt, os desenvolvedores da IA, e os artistas cujas obras foram usadas (muitas vezes sem consentimento) para treinar o modelo, todos têm algum papel na imagem final. A questão dos direitos autorais na arte gerada por IA é, por si só, um labirinto jurídico e ético que adiciona complexidade ao debate. Quem detém os direitos sobre uma imagem criada por uma máquina treinada com trabalhos de milhares de artistas? As respostas legais e sociais para essa pergunta ainda estão em construção.

Além da discussão sobre o processo, há um ponto específico levantado por alguns observadores: as imagens geradas por IA que se parecem com fotos antigas não deveriam ser chamadas de “fotos”. A fotografia, em sua definição mais tradicional, seja analógica ou fotografia digital, envolve a captura da luz refletida por uma cena real, mesmo que encenada. As imagens de IA não capturam a realidade; elas a simulam ou inventam com base nos dados aprendidos. São, portanto, imagens sintéticas, não fotografias no sentido estrito. Essa distinção, embora possa parecer semântica, é importante para alguns, pois preserva o significado histórico e técnico da fotografia como um meio de registro do mundo físico. Chamar tudo de “foto” diluiria a especificidade da técnica fotográfica.

Consideremos paralelos levantados pelo artigo original: Se um artista usasse software 3D como o Blender para criar imagens super realistas, seria considerado arte? E se ele encenasse as cenas com atores e tirasse fotos convencionais? A aceitação dessas práticas como artísticas é mais consolidada. O uso de uma ferramenta digital (Blender) ou a manipulação da realidade para registro (fotografia encenada) são parte do repertório artístico há anos. Por que a IA seria diferente? A resposta, para alguns, está na natureza “generativa” da IA – ela cria a imagem a partir do nada (do prompt e do treinamento), enquanto as outras ferramentas auxiliam na manipulação ou captura do mundo existente. Para outros, a diferença é apenas uma questão de grau e automação.

A Ferramenta vs. O Dispositivo: Contexto e Controle na Tecnologia Generativa

Outro ângulo crucial no debate sobre arte gerada por IA diz respeito à natureza da própria inteligência artificial. É apenas uma ferramenta neutra, como um pincel, uma câmera ou um software de edição? Ou é um “dispositivo” mais complexo, intrinsecamente ligado a estruturas de poder, dados tendenciosos e interesses corporativos? Alguns argumentam que a IA, especialmente os modelos de linguagem e imagem, não é neutra porque é treinada em dados que refletem e, por vezes, perpetuam preconceitos sociais de raça, gênero, classe, etc. Criar imagens que desafiam esses preconceitos, como as de Mayara Ferrão ao retratar afeto entre mulheres indígenas e escravizadas, pode ser visto como um ato artístico poderoso precisamente porque usa a própria ferramenta (o modelo de IA tendencioso) contra seus vieses intrínsecos. A arte estaria, nesse caso, não apenas na imagem final, mas também no ato de subverter a lógica da máquina.

A perspectiva histórica oferece um contraponto interessante. A introdução de novas tecnologias na arte sempre foi acompanhada por resistência. A fotografia, no início do século XX, foi inicialmente descartada por muitos como um mero registro mecânico, desprovido da alma e da habilidade manual da pintura. O cinema enfrentou ceticismo. A arte digital produzida em computadores no final do mesmo século também demorou a ser plenamente reconhecida por certos círculos. A história sugere que a oposição a novas técnicas de produção artística é, de certa forma, previsível e transitória. O que hoje é controverso, amanhã pode ser aceito como mais uma forma legítima de expressão.

No entanto, há uma diferença apontada por alguns: a IA generativa não é apenas uma nova ferramenta para executar uma tarefa antiga de forma mais eficiente (como uma câmera digital versus uma analógica). Ela automatiza aspectos criativos e técnicos que antes exigiam anos de prática e estudo. Isso levanta preocupações legítimas entre artistas cujas carreiras se baseiam nessas habilidades. Se qualquer pessoa com um prompt pode gerar imagens que rivalizam visualmente com o trabalho de um ilustrador experiente, qual o futuro para esses profissionais? O debate sobre a criação de conteúdo assistida por IA transcende a galeria de arte e impacta o mercado de trabalho criativo em larga escala.

A distinção feita pelo Sr. Cansado no comentário do artigo original é pertinente: muitas das imagens geradas por IA que circulam são “horrendas” porque são criadas por pessoas sem conhecimento prévio dos princípios estéticos e técnicos do estilo que estão emulando. A Mayara Ferrão, sendo uma artista com experiência prévia, pode ter a “consciência estética” e o conhecimento para direcionar a IA de forma mais eficaz, elevando o resultado. Isso sugere que a IA pode ser uma ferramenta poderosa nas mãos de um artista habilidoso, mas não transforma automaticamente qualquer pessoa em artista. O “feeling” artístico, a capacidade de refinar prompts, de iterar, de selecionar o resultado certo e, talvez, de pós-processar a imagem, ainda exigem uma sensibilidade e um conhecimento que a máquina não possui.

O Que Define a Arte? Intenção, Reação e Contexto

Ultrapassar a barreira técnica e filosófica nos leva de volta à pergunta fundamental: o que é arte? Essa pergunta não tem uma resposta única e universalmente aceita. Ao longo da história, a definição de arte mudou radicalmente. Objetos do cotidiano ( Duchamp ), latas de sopa ( Warhol ), e até bananas coladas na parede já foram expostos e debatidos como arte. A “arte” frequentemente reside menos na técnica ou no material e mais na intenção do artista, no contexto em que a obra é apresentada (uma galeria, um museu) e na reação que ela provoca no espectador.

As imagens de Mayara Ferrão, expostas em um centro cultural renomado como o CCBB, com uma clara intenção de ressignificação histórica e provocação social, já cumprem alguns dos critérios que a história da arte nos ensinou a considerar. O fato de causarem debate e desconforto em alguns, e admiração e identificação em outros, é, por si só, um indicador de seu potencial impacto artístico. A arte, muitas vezes, serve para nos tirar da zona de conforto, para nos fazer questionar o mundo e nossas próprias percepções. As “Indomináveis Presenças” parecem estar fazendo exatamente isso.

Ignorar ou desqualificar a arte digital gerada por IA porque ela utiliza uma nova tecnologia generativa seria repetir erros do passado. Em vez de gastar energia na negação, talvez o caminho mais produtivo seja explorar as novas possibilidades que a IA oferece. Como essa ferramenta pode ser usada para expandir a expressão artística? Como pode auxiliar artistas em seus processos? Como pode democratizar a criação de conteúdo (e quais os riscos éticos dessa democratização)?

A discussão não é simples, e não há respostas fáceis. Envolve questões sobre autoria, originalidade, valor do trabalho manual, ética no uso de dados, e o próprio papel da arte na sociedade. As imagens de Mayara Ferrão no CCBB são mais do que meras imagens; são um catalisador para um debate necessário sobre o futuro da criatividade humana em um mundo cada vez mais mediado pela inteligência artificial. O incomodo que elas geram é, talvez, um sinal de que estamos diante de algo novo e relevante, algo que nos força a reavaliar nossas definições e preconceitos.

Impactos e Implicações Futuras

A ascensão da inteligência artificial na criação de conteúdo tem implicações profundas que vão além das galerias de arte. Para a indústria criativa, isso significa uma redefinição de papéis e habilidades. Artistas podem precisar se adaptar, aprendendo a usar ferramentas de IA de forma eficaz, talvez se tornando “curadores de IA” ou focando em aspectos do processo criativo que a IA não pode replicar (conceitualização profunda, emoção genuína, experiências de vida únicas).

Para o mercado de arte, a IA levanta questões sobre autenticidade e valor. Uma obra gerada por IA deve valer tanto quanto uma pintura a óleo? A raridade e o “toque humano” perdem valor na era da replicação digital facilitada? Essas perguntas ainda não têm respostas claras e provavelmente serão moldadas pela aceitação cultural e pelo próprio desenvolvimento da tecnologia generativa.

Para a sociedade em geral, a proliferação de imagens geradas por IA, especialmente aquelas com ares de “registros históricos” ou “notícias” (como o exemplo da prefeitura no artigo original), levanta sérias preocupações sobre a veracidade e a manipulação da realidade. A capacidade da IA de criar deepfakes visuais e textuais torna mais difícil distinguir o real do sintético, um desafio significativo em uma era de desinformação generalizada. Isso é o que alguns consideram o “perigo maior da IA”, a capacidade de “reescritura” da realidade de forma convincente.

A discussão sobre a inteligência artificial na arte é um microcosmo de debates maiores que a sociedade enfrenta sobre o impacto da IA em todos os aspectos da vida. É um lembrete de que a tecnologia não é apenas um conjunto de ferramentas técnicas, mas uma força cultural e social que molda nossas percepções, valores e interações. O debate sobre arte gerada por IA no CCBB é um convite para pensarmos criticamente sobre o futuro que estamos construindo e sobre o papel que a criatividade humana desempenhará nele.

A referência original que inspirou este artigo pode ser encontrada em https://manualdousuario.net/indominaveis-presencas-arte-ia-ccbb-rio/ e foi produzida com o apoio de inteligência artificial.

Conclusão

A polêmica em torno das obras de Mayara Ferrão na exposição “Indomináveis Presenças” no CCBB-RJ ilustra vividamente o momento de transição que vivemos na relação entre tecnologia e arte. A inteligência artificial generativa desafia nossas definições pré-concebidas, questiona a natureza da autoria e do processo criativo, e nos força a considerar o que realmente valorizamos em uma obra de arte. Não há consenso, e talvez nunca haja uma resposta única para a pergunta se imagens geradas por IA podem ser arte. No entanto, a vitalidade do debate, a paixão das opiniões divergentes e a profundidade das questões levantadas indicam que estamos diante de um fenômeno relevante e transformador. O futuro da arte, como o da sociedade, será inevitavelmente moldado pela forma como integramos e dialogamos com a tecnologia generativa. Resta a nós participar ativamente dessa conversa, explorando as possibilidades, confrontando os desafios éticos e estéticos, e, acima de tudo, mantendo a mente aberta para as novas formas de expressão que emergem.
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Pontos Principais

  • A exposição “Indomináveis Presenças” no CCBB-RJ, com obras de Mayara Ferrão geradas por inteligência artificial, reacendeu o debate sobre IA na arte.
  • As obras de Ferrão utilizam tecnologia generativa para emular fotografias antigas e ressignificar o passado, gerando controvérsia online.
  • O debate central gira em torno de se imagens de IA podem ser consideradas arte, com argumentos focando na falta de processo tradicional, autoria difusa e distinção entre imagem e fotografia.
  • A discussão aborda se a inteligência artificial é uma ferramenta neutra ou um dispositivo com vieses inerentes.
  • Paralelos históricos com a aceitação da fotografia e da arte digital como formas legítimas de arte são frequentemente citados no debate sobre arte gerada por IA.
  • Questões éticas e legais, como os direitos autorais na arte gerada por IA e o uso de dados de treinamento, são parte integrante da controvérsia.
  • O impacto da IA na criação de conteúdo e no mercado de trabalho para artistas é uma preocupação crescente.
  • A definição de arte é complexa e mutável, influenciada pela intenção do artista, contexto e reação do público.
  • A controvérsia no CCBB-RJ destaca a necessidade de diálogo e reflexão sobre o papel da tecnologia no futuro da expressão artística e na sociedade.

Notícia escrita com ajuda de uma IA.

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