A inteligência artificial revoluciona a indústria bancária, tornando-se essencial, mas a rápida escalabilidade exige cautela. Bancos ponderam os riscos e benefícios da inteligência artificial para bancos, a necessidade de guard-rails robustos e a importância da segurança cibernética diante da crescente transformação digital nos bancos.
Lembro-me de quando a tecnologia nos bancos significava apenas caixas eletrônicos e internet banking rudimentar. A cada avanço, a sensação era de estarmos diante de um futuro distante. Hoje, o futuro não apenas chegou, ele escala a uma velocidade vertiginosa, impulsionado pela inteligência artificial. Essa força transformadora, embora repleta de promessas de eficiência e personalização, também nos convida a uma reflexão profunda: estamos prontos para gerenciar os riscos que acompanham essa escalada sem precedentes? A conversa entre líderes de tecnologia dos maiores bancos no Febraban Tech reacendeu essa questão crucial, mostrando que, por trás do brilho da inovação, reside a cautela necessária para navegar em um mar de possibilidades e perigos inerentes.
A inteligência artificial, antes vista como um diferencial competitivo, agora se consolida como um pilar fundamental na operação bancária moderna. A GenAI, em particular, deixou de ser uma ferramenta de nicho para se tornar parte integrante das estratégias de negócio. Executivos de tecnologia de instituições financeiras proeminentes, como Bradesco, Santander, Caixa e BTG, compartilharam suas visões e preocupações durante o evento Febraban Tech. Eles concordam que a capacidade da IA de analisar vastos conjuntos de dados, automatizar processos complexos e oferecer insights preditivos é inestimável para aprimorar a experiência do cliente, otimizar operações internas e, em última instância, impulsionar o crescimento. No entanto, a rapidez com que a tecnologia evolui e se dissemina levanta bandeiras amarelas, especialmente no que tange à segurança e à gestão de riscos.
A Dualidade da Inteligência Artificial no Setor Financeiro: Vantagens Inegáveis e Desafios Crescentes
A rapidez é a nova moeda no universo tecnológico, e com a inteligência artificial, essa característica é ainda mais acentuada. Richard da Silva, vice-presidente de tecnologia do Santander, destacou em seu painel que a maior transformação tecnológica atual é a velocidade com que as coisas acontecem. E essa velocidade tem um lado B preocupante: a escala. “Tudo que se escala, o erro escala rápido também”, alertou. Essa frase ecoa uma verdade fundamental no desenvolvimento de qualquer tecnologia, mas ganha contornos mais sérios quando aplicada a sistemas de IA que operam em larga escala, potencialmente afetando milhões de clientes e trilhões em transações financeiras. A necessidade de manter o controle humano é, portanto, imperativa. “O papel do humano é sempre ser o piloto, estar no comando, não ser o copilto nunca”, complementou Richard da Silva. Essa visão ressalta que, embora a IA possa automatizar e otimizar, a decisão final e a supervisão crítica devem permanecer nas mãos de profissionais qualificados.
Os desafios não se limitam apenas a erros operacionais ou algorítmicos. A ascensão da inteligência artificial no setor financeiro coincide com o aumento da sofisticação das ameaças cibernéticas. Enquanto os bancos implementam soluções de IA para detectar fraudes e fortalecer suas defesas, os criminosos também se apropriam dessa tecnologia. A menção ao “FraudGPT”, uma analogia sombria ao popular ChatGPT, ilustra a realidade de que as mesmas ferramentas poderosas que estão sendo usadas para o bem-estar financeiro podem ser (e estão sendo) adaptadas para fins maliciosos. A segurança cibernética se torna um campo de batalha constante, onde a inovação defensiva precisa superar a ofensiva.
A Necessidade de Experimentação e Guard-rails
Diante desse cenário de rápida evolução e riscos ampliados, a cautela e a experimentação controlada emergem como palavras de ordem entre os líderes do setor bancário. Pedro Pedrosa, diretor-executivo da Caixa, enfatizou a importância de resistir ao “hype” em torno da IA e adotar uma abordagem mais medida. “Estamos muito no hype, tem uma corrida para fazer uso de IA. Então, acho que precisamos usar o conceito de experimentação, testar, começar pequeno, antes de fazer uma escalada”, afirmou. A lógica por trás dessa abordagem é clara: ao experimentar em menor escala, é possível identificar e corrigir falhas, entender as nuances do comportamento da IA em ambientes reais e construir a confiança necessária antes de expandir seu uso. Ignorar essa etapa pode levar a problemas de difícil reversão, pois, como Pedrosa pontuou, com IA, alguns projetos rapidamente se tornam “too big too drop out” (muito grandes para serem descartados), criando dependências e complexidades que dificultam ou inviabilizam sua interrupção caso surjam problemas.
Christian Flemming, CIO do BTG, corroborou essa perspectiva, destacando a crescente utilização de agentes de IA – robôs autônomos que aprendem e aprimoram modelos – e a necessidade intrínseca de construir barreiras de segurança, conhecidas no jargão técnico como “guard-rails”. Esses guard-rails são essenciais para evitar erros, “alucinações” (respostas incorretas ou sem sentido geradas pela IA) e comportamentos indesejados. “A gente vai ter que se lançar no uso indiscriminado de agentes de IA e fazer com que eles funcionem em conjunto”, comentou Flemming, indicando que a integração e a coordenação entre diferentes sistemas de IA serão cruciais, mas sempre sob a proteção de mecanismos de controle robustos. A implementação de guard-rails não é apenas uma medida de segurança, mas também uma forma de garantir a conformidade regulatória e a responsabilidade ética no uso da inteligência artificial.
Evolução da IA nos Bancos e a Importância da Governança de Dados
A transformação digital nos bancos tem sido profundamente impactada pela evolução da inteligência artificial. Edilson Reis, chefe de tecnologia do Bradesco, ofereceu um exemplo concreto dessa evolução ao falar sobre a BIA, a inteligência artificial do banco criada em 2016. Reis usou uma analogia familiar para ilustrar o rápido crescimento e diversificação das capacidades da BIA: “até o ano passado, a IA do Bradesco era uma jovem adulta, e agora já constituiu família e tem três filhos”. Essa “família” da BIA representa as diferentes aplicações da IA que se desenvolveram para atender a necessidades específicas dentro do banco.
Um dos “filhos” da BIA é a BIA Clientes, projetada para aprimorar o atendimento, alcançando um grau de resolutividade impressionante de 85% a 90%. Isso demonstra como a inteligência artificial pode otimizar processos que tradicionalmente demandavam grande esforço humano, liberando funcionários para tarefas mais complexas e estratégicas. Outro “filho” é a BIA Corporate, focada em auxiliar clientes Pessoa Jurídica com suas dúvidas, personalizando o atendimento e oferecendo suporte especializado para as demandas do universo corporativo. O terceiro “filho”, a BIA Tech, é voltada para os desenvolvedores do próprio banco, fornecendo suporte, insights e automação para a criação e manutenção de sistemas.
Essa expansão das funcionalidades da IA reflete a sua importância crescente. Como Reis observou, “Algum tempo atrás, a IA era uma vantagem competitiva, hoje, se não tiver IA em algumas áreas, você já ficou para trás, perdeu tempo”. Isso sublinha o ponto de que a inteligência artificial deixou de ser um luxo para se tornar uma necessidade estratégica para as instituições financeiras que desejam se manter relevantes e competitivas no mercado atual. No entanto, mesmo com a pressão para adotar a IA em diversas frentes, Reis também reforçou a mensagem de cautela e responsabilidade, reiterando a necessidade de criar “guard-rails adequados e escalar com calma”. A frase “Como toda nova tecnologia, algum risco vamos ter de correr, mas é preciso errar pequeno e expandir de maneira responsável” encapsula a abordagem equilibrada que os bancos estão buscando adotar.
No Banco do Brasil, a questão da governança de dados foi destacada por Marisa Reghini como um ponto crucial no uso da inteligência artificial. À medida que a IA se torna mais integrada aos processos bancários, a gestão e a proteção dos dados utilizados para treinar e operar esses sistemas se tornam de suma importância. “A tendência é que a gente saia aplicando para todos os processos, mas tem que avaliar mais sobre isso no mercado”, pontuou Reghini. A governança de dados engloba desde a coleta e armazenamento seguros até a garantia de que os dados sejam precisos, imparciais e utilizados de forma ética e em conformidade com as regulamentações, como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).
A preocupação com a segurança cibernética é especialmente relevante no contexto da governança de dados e do uso da IA. Reghini mencionou que o Banco do Brasil tem utilizado bastante inteligência artificial generativa na área de cibersegurança, o que é uma aplicação valiosa da tecnologia para proteger os sistemas e dados do banco contra ameaças. No entanto, ela também reconheceu o lado sombrio dessa moeda: “a gente sabe que tem muita galera do mal fazendo novos modelos também e testando”. Essa observação reforça a ideia de que a corrida armamentista digital está em pleno vapor, e a necessidade de inovar em segurança cibernética é constante para mitigar os riscos e benefícios da inteligência artificial para bancos, especialmente aqueles relacionados a ataques e vazamento de informações confidenciais. A governança de dados e a segurança cibernética caminham lado a lado na construção de um ambiente seguro e confiável para a implementação em larga escala da inteligência artificial no setor financeiro. A adequação à LGPD, por exemplo, exige um cuidado redobrado com a forma como os dados pessoais são tratados pelos sistemas de IA, garantindo a privacidade e os direitos dos titulares dos dados.
Impacto e Implicações
O avanço da inteligência artificial no setor bancário tem implicações profundas para clientes, funcionários e a sociedade como um todo. Para os clientes, a IA pode significar serviços mais rápidos, personalizados e acessíveis, desde chatbots que resolvem dúvidas instantaneamente até análises de crédito mais eficientes e recomendações de produtos financeiros adaptadas às suas necessidades. A BIA Clientes do Bradesco, com sua alta resolutividade, é um exemplo claro de como a IA pode melhorar a experiência do consumidor. No entanto, os clientes também enfrentam riscos crescentes de fraudes mais sofisticadas, impulsionadas pela mesma tecnologia.
Para os funcionários dos bancos, a transformação digital nos bancos e a automação trazida pela IA podem gerar preocupações sobre a segurança no emprego. No entanto, a experiência mostra que a IA tende a transformar funções em vez de eliminá-las por completo. Ferramentas como a BIA Tech podem auxiliar desenvolvedores a serem mais produtivos, enquanto a automação de tarefas repetitivas libera os funcionários para se concentrarem em atividades que exigem julgamento humano, criatividade e interação social. O desafio está em requalificar a força de trabalho para operar em um ambiente cada vez mais integrado com a IA.
Para a sociedade, a expansão da inteligência artificial nos bancos levanta questões éticas e regulatórias importantes. A imparcialidade dos algoritmos, a transparência nas decisões tomadas pela IA (especialmente em concessão de crédito e avaliação de riscos) e a responsabilidade em caso de erros ou danos são temas que precisam ser abordados de forma proativa. A discussão sobre a necessidade de guard-rails reflete essa preocupação com a criação de salvaguardas que garantam que a IA opere de forma justa e segura para todos. A governança de dados robusta é essencial para proteger a privacidade dos cidadãos em uma era onde a coleta e análise de dados são centrais para o funcionamento da IA bancária. A colaboração entre reguladores, instituições financeiras e desenvolvedores de tecnologia é fundamental para estabelecer um quadro regulatório que promova a inovação responsável e proteja os interesses públicos diante da rápida evolução da inteligência artificial e seus riscos e benefícios da inteligência artificial para bancos.
Conclusão
A jornada da inteligência artificial no setor financeiro é uma narrativa de progresso acelerado, pontuada por oportunidades incríveis e desafios complexos. A tecnologia, antes um diferencial, é agora um componente indispensável da transformação digital nos bancos. Vimos como a GenAI e outras formas de IA estão aprimorando o atendimento, otimizando operações e até mesmo auxiliando no desenvolvimento de novas soluções. No entanto, a velocidade dessa evolução exige uma vigilância constante. Os riscos e benefícios da inteligência artificial para bancos estão intrinsecamente ligados à forma como a tecnologia é implementada e gerenciada. A ameaça crescente na segurança cibernética, impulsionada pelo uso da IA por atores mal-intencionados, reforça a urgência em fortalecer as defesas e a governança de dados. A mensagem unânime dos líderes bancários é clara: a experimentação em pequena escala, a construção de guard-rails robustos e a priorização da governança de dados são passos essenciais para mitigar os riscos e garantir que a inteligência artificial seja uma força para o bem no setor financeiro. A chave está em equilibrar a inovação com a responsabilidade, navegando no potencial transformador da IA com cautela e inteligência. O que você acha sobre esse tema? Comente abaixo!
Pontos Principais
- A inteligência artificial deixou de ser um diferencial para se tornar essencial no setor financeiro.
- A GenAI está sendo amplamente adotada pelos bancos para otimizar operações e atendimento.
- A rápida escalabilidade da IA aumenta o potencial de erros e a sofisticação de ameaças cibernéticas.
- Líderes bancários enfatizam a necessidade de experimentação controlada e construção de “guard-rails”.
- A segurança cibernética é um desafio crescente, com criminosos utilizando IA para fraudes.
- A governança de dados e a conformidade com regulamentações como a LGPD são cruciais para o uso responsável da IA.
- A evolução da IA, exemplificada pela BIA do Bradesco, demonstra sua aplicação em diversas áreas do banco.
- Os riscos e benefícios da inteligência artificial para bancos exigem um equilíbrio cuidadoso entre inovação e responsabilidade.
- A transformação digital nos bancos impulsionada pela IA impacta clientes, funcionários e a sociedade.
A referência original que inspirou este notícia pode ser encontrada em https://valor.globo.com/financas/noticia/2025/06/11/inteligencia-artificial-traz-vantagens-mas-escala-rapido-assim-como-riscos-apontam-bancos.ghtml, e foi produzida com o apoio de inteligência artificial.